Misto de alegoria, drama com narrativas múltiplas e um comentário político-social construído a partir de um microcosmos fascinante, o filme conta com personagens ricos, uma fotografia belíssima, um design de produção soberbo e com momentos tão mágicos quanto duros em seu realismo – além de trazer ao menos duas cenas absolutamente inesquecíveis (ambas protagonizadas por um Irandhir Santos cada vez melhor). 4/5
Contando com momentos que são realmente inspirados, o filme compensa os outros que nem são tanto assim graças à sua breve duração, que não abusa do espectador, e principalmente à simpatia do elenco. 3/5
O personagem-título deste projeto co-dirigido por Johnnie To é uma figura curiosa cuja insanidade é retratada de forma eficaz, rendendo instantes visualmente intrigantes. Por outro lado, o filme falha em jamais se decidir acerca da natureza do detetive, oscilando entre loucura e uma capacidade real de enxergar a “personalidade interior” de todos ao seu redor. Além disso, a trama policial em si é óbvia demais para gerar curiosidade, sacrificando o conceito por trás de seu herói. 3/5
A série até tem seus momentos, mas este longa é apenas uma cópia tola de Antes Só do que Mal Acompanhado que traz todo o sentimentalismo artificial típico de produções Disney para a tevê. 2/5
O design tridimensional dos personagens no terceiro ato, bem como a animação que os insere em cenários reais, é notável. Além disso, o filme (bem como o original) traz algumas brincadeiras metalinguísticas divertidas e um tom irreverente que contagia, embora este seja menos consistente do que no anterior. Além disso, o roteiro é bem mais frágil desta vez, frequentemente apelando para piadas óbvias que confundem nonsense e pura bobagem. Mas há o terceiro ato pra salvar. 3/5
A animação é surpreendentemente cuidadosa para um projeto originalmente concebido para lançamento em vídeo – como indica, por exemplo, o momento no qual as pupilas da protagonista se dilatam no escuro. Mas, mais do que isso, este é um raro longa infantil que gira em torno não só de personagens femininas, mas em um universo no qual as mulheres exercem papel dominante, frequentemente salvando os homens em vez de se comportarem como mocinhas em perigo. Para completar, a relação entre Fawn (não, a protagonista não é Tinker Bell, o que torna o título incorreto) e o Monstro é delicada e sensível, merecendo destaque também o design de produção colorido e vivaz. É uma pena que, em função do modelo de produção, a história seja pouco ambiciosa, não encontrando tempo para expandir os personagens, o universo e suas relações. 3/5
É curioso notar como a estrutura formulaica de road movie é óbvia, usando a viagem para aproximar os dois personagens, mas ao mesmo tempo eficiente. Parte disso se deve, claro, ao fato de Barry Levinson “colorir” a jornada com rostos reais e locações que trazem sua verossimilhança e sua história à narrativa, mas, em última análise, este é um filme de atores – e não só Hoffman compõe Raymond com um cuidado precioso, sem se entregar a muletas caricaturais (e dedicando uma atenção especial ao olhar vivo, mas vazio, do personagem-título), como Tom Cruise também é peça fundamental para a eficácia da narrativa, transformando o arco de Charlie no centro emocional do longa em uma performance infelizmente subestimada por muitos. 4/5
O primeiro longa de Soderbergh já exibia aquelas que se tornariam algumas de suas marcas registradas: a fotografia, que emprega as cores e a movimentação de câmera como recursos sempre reveladores sobre os personagens e seus dramas, e um cuidado especial com os atores, que criam figuras multifacetadas e psicologicamente ricas e intrigantes. Não é à toa que este trabalho praticamente reinventou a cena indie do Cinema norte-americano, alçando também o Festival de Sundance ao posto importante que passou a ocupar desde então: a força do filme vem não só de seu (então precoce) diretor, mas também da própria forma com que a produção ganhou vida. 5/5
Nacho Vigalondo é um diretor que costuma ser inventivo e interessante em suas narrativas, mas pouco criativo em suas tramas. É exatamente isso que ocorre aqui: a maneira com que ele conta a história é infinitamente mais instigante do que a história em si, que se revela tola, absurda e frustrante. Ainda assim, o esfoço para manter tudo em tempo real e as justificativas para saltar de uma janela a outra são suficientemente curiosos para que o filme não seja um fracasso total. 2/5
Um House of Cards que usa os palavrões como vírgula, o filme concebe os bastidores do poder como um jogo impiedoso no qual intimidação, traições e troca de favores e informações são moedas correntes – e, infelizmente, se há algo que o difere da realidade é apenas a inventividade e a eloquência com que seus personagens se manifestam. Centrado em torno de uma performance fascinante e intimidadora de Peter Capaldi, esta é uma comédia que nos faz rir da política ao mesmo tempo em que provoca lamentação por ela ser feita desta maneira. 5/5