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100 - Oscar 2023: Previsões Conversa de Cinéfilo

Amigos do Cinema em Cena,

depois de um pequeno hiato, volto a publicar minhas previsões para o Oscar – algo que, saltando um ou outro ano, venho fazendo praticamente desde que o site foi criado em 1997. Como sempre, lembro que este não é um artigo sobre os que julgo “melhores”, mas sobre os que considero “favoritos”, o que são duas coisas completamente distintas (escrevi há algum tempo sobre a verdadeira natureza do Oscar e por que é bobagem encará-lo como sinônimo de qualidade artística).

Então vamos às previsões.

 

FILME

Vai vencer: Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo

Explicando a escolha: Há muitos anos não era tão fácil prever um vencedor. Caso o filme dos Daniels perca, todos os modelos estatísticos usados para mensurar a influência dos prêmios percursores acabarão sendo afetados em maior ou menor grau, já que o longa dominou toda a temporada de premiações – e suas vitórias no PGA e no SAG são muito, muito significativas. O único tropeço foi no BAFTA, que foi parar nas mãos de Nada de Novo no Front – que, portanto, seria a única possível (mas improvável) surpresa neste domingo.

Qual seria meu voto: Por incrível que pareça, o único que não vi entre os indicados foi justamente o recorde de bilheteria do ano: Avatar 2. Não, não sei por que ainda não conferi, já que adoro o original e sou fã de James Cameron, mas… Dito isso, gosto de todos os demais, mas não sou apaixonado por nenhum. Acho, porém, que acabaria votando em Os Banshees de Inisherin.

Surpresa que me agradaria: Os Banshees de Inisherin. Ou Tár. Ou Os Fabelmans. Ou Elvis. Ou Triângulo da Tristeza. Ou… como eu disse, gosto de todos, mas não amo nenhum.

 

DIRETOR

Vai vencer: Os Daniels (Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo).

Explicando a escolha: Venceram o DGA, fizeram uma campanha eficiente durante toda a temporada (inclusive manifestando admiração pelos concorrentes e pedindo que os fãs não os atacassem) e o filme em si é querido na indústria. Não há mistério.

Qual seria meu voto: Os Daniels. Gosto muito do filme e do fato de a dupla se arriscar em seus projetos. (Um Cadáver para Sobreviver foi uma das experiências mais surpreendentes que tive naquele ano.)

Surpresa que me agradaria: Spielberg, por Os Fabelmans. Sim, é um dos diretores mais celebrados da história do Cinema, mas fez um filme muito pessoal, corajoso e… caramba, é o Spielberg.

 

ATRIZ

Vai vencer: Michelle Yeoh.

Explicando a escolha: Esta é uma das disputas mais apertadas da noite. Cate Blanchett iniciou a temporada de premiações como a grande favorita e levou o BAFTA, mas a narrativa da campanha de Yeoh foi perfeita, salientando como esta tem uma longa carreira e o reconhecimento significaria muito mais para sua trajetória do que para a de Blanchett, que, afinal, já tem duas estatuetas. E ter vencido o SAG também conta muito.

Qual seria meu voto: Andrea Riseborough, por To Leslie. Amo as performances de Blanchett e Yeoh. Admiro tecnicamente a de Ana de Armas. Gosto bem de Williams. Porém, Riseborough não apenas se despoja de qualquer traço de vaidade (algo recorrente em sua carreira) como abraça uma personagem difícil e faz o espectador se importar com esta. Além disso, os ataques que recebeu ao ser indicadas foram de uma escrotice sem tamanho.

 

ATOR

Vai vencer: Brendan Fraser.

Explicando a escolha: É surpreendente que a disputa tenha chegado tão apertada a este ponto. Há dois meses, ninguém questionaria a vitória de Brendan Fraser, que é querido na indústria, tem uma trajetória marcada pelo assédio sexual que sofreu por parte de um integrante poderoso da HFPA (responsável pelo Globo de Ouro) e que vem fazendo discursos emocionados e emocionantes sempre que é chamado ao palco. Aliás, o único que parecia capaz de estragar sua noite era Colin Farrell. E aí Austin Butler venceu o BAFTA. Sua grande vantagem, contudo, reside no fato de Elvis ter sido indicado a Melhor Filme e A Baleia não (e ao contrário do que muitos parecem acreditar, o filme de Darren Aronofsky está longe de ser admirado). Assim, não é à toa que muitos estão tratando o jovem como novo favorito – e creio que, na ponta do lápis, realmente é. Mas… não sei. Butler ainda é jovem e certamente seria bem mais emocionante ver Fraser no palco. Meu cérebro diz “Butler”, meu instinto diz “Fraser”.

Qual seria meu voto: E meu coração diz Bill Nighy, que está maravilhoso em Living e merece o prêmio até mesmo por sua carreira.

Surpresa que não me desagradaria: Paul Mescal, por Aftersun. Ou Farrell.

 

ATRIZ COADJUVANTE

Vai vencer: Kerry Condon.

Explicando a escolha: Aqui nunca houve uma favorita e ainda não há, já que as premiações precursoras foram distribuídas entre Jamie Lee Curtis (SAG), Kerry Condon (BAFTA) e Angela Bassett (vários prêmios da crítica). Bassett tem uma longa e admirada carreira (e uma indicação prévia); Curtis tem uma longa e admirada carreira (além de ser “realeza” em Hollywood, o que sempre conta); Condon é a “novata” (longe disso, mas Banshees a projetou a um novo nível) que seria mais beneficiada pelo prêmio. Acredito, porém, que seja possível que Curtis e Bassett dividam fotos, o que traria vantagem à irlandesa

Qual seria meu voto: Jamie Lee Curtis.

Surpresa que não me desagradaria: Stephanie Hsu.

 

ATOR COADJUVANTE

Vai vencer: Ke Huy Quan.

Explicando a escolha: Venceu tudo que tinha para vencer (com exceção do BAFTA), fez discursos maravilhosos e emocionados, tem uma trajetória profissional que inspirou admiração de todos pela resiliência e, de quebra, ofereceu uma performance lindíssima. Não há nem o que dizer mais.

Qual seria meu voto: Ke Huy Quan (além de tudo, ele é Short Round e Data e eu cresci nos anos 80).

Surpresa que não me desagradaria: Não quero surpresas aqui.

Se ganhar, eu mato um: Qualquer um que não seja Ke Huy Quan.

 

 

ROTEIRO ADAPTADO

Vai vencer: Entre Mulheres.

Explicando a escolha: Venceu o WGA e muitos acreditam que Sarah Polley deveria ter sido indicada como diretora, o que transformaria este prêmio em uma forma de compensar a omissão.

Qual seria meu voto: Living.

Se vencer, eu mato um: Top Gun: Maverick. Eu gosto muito do filme (e nem gosto do original) e até entendo sua indicação na categoria principal, já que é eficiente em seu gênero e teve um papel importante na indústria nesta era pós-pandemia. Mas roteiro?! Por um trabalho sem qualquer traço de originalidade em tema, estrutura ou trama? Não, desculpe, mas aí já é demais.

 

ROTEIRO ORIGINAL

Vai vencer: Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo.

Explicando a escolha: Venceu o WGA e… que parte de “vai fazer o rapa no Oscar” você ainda não entendeu?!

Qual seria meu voto: Triângulo da Tristeza.

Surpresa que não me desagradaria: Os Banshees de Inisherin.

 

FILME ESTRANGEIRO

Vai vencer: Nada de Novo no Front.

Explicando a escolha: Já escrevi isto em outras ocasiões e repito: sempre (ou quase: ver Parasita) que um filme recebe dupla indicação, sendo lembrado na categoria principal e na de Estrangeiro, isto o prejudica lá e ajuda aqui.

Qual seria meu voto: Argentina, 1985.

Surpresa que não me desagradaria: Close ou EO.

 

ANIMAÇÃO

Vai vencer: Pinóquio

Explicando a escolha: Venceu o Annie. Venceu o PGA. Venceu o BAFTA. É assinado por Guillermo del Toro.

Qual seria meu voto: Amo Pinóquio, mas foi o único indicado nesta categoria que vi este ano. Portanto, eu me absteria.

 

 

FOTOGRAFIA

Vai vencer: Elvis

Explicando a escolha: A disputa está entre Elvis e Nada de Novo no Front. Ambos foram indicados a Melhor Filme, o que não ajuda na previsão. O primeiro venceu na premiação de sua classe profissional (o ASC); o segundo, o BAFTA. Mas talvez aqui a vontade de fazer História ajude Elvis, já que esta é a única categoria jamais vencida por uma mulher – e Mandy Walker, por Elvis, seria a primeira.

Qual seria meu voto: Elvis

Surpresa que não me desagradaria: Tár.

 

DESIGN DE PRODUÇÃO (o equivalente a DIREÇÃO DE ARTE no Brasil)

Vai vencer: Babylon.

Explicando a escolha: Venceu o BAFTA e o prêmio de sua classe profissional (o ADG). E, não menos importante, faz uma recriação histórica de Hollywood (algo que a indústria ama).

Qual seria meu voto: Elvis.

 

FIGURINO

Vai vencer: Elvis.

Explicando a escolha: Venceu o prêmio de sua classe profissional, o BAFTA e… gente, vocês viram Elvis?! O que há pra discutir?!

Qual seria meu voto: Elvis.

Surpresa que não me desagradaria: Tudo em Todo Lugar Ao Mesmo Tempo.

 

MONTAGEM

Vai vencer: Tudo em Todo Lugar Ao Mesmo Tempo.

Explicando a escolha: Ao contrário de roteiro, aqui, sim, uma vitória de Top Gun: Maverick seria justificada. Sua vitória na premiação de sua classe profissional (o ACE, ou “Eddies”) na categoria Drama também é um fator importante. No entanto, adivinhem quem venceu o Eddie na categoria Comédia? Pois é, o aparentemente imparável Tudo em Todo Lugar Ao Mesmo Tempo.

Qual seria meu voto: Elvis.

Surpresa que não me desagradaria: Tár.

 

MAQUIAGEM

Vai vencer: Elvis.

Explicando a escolha: Venceu o prêmio de sua classe profissional (o MUAH) e esta é uma categoria que costuma premiar o trabalho de transformar um intérprete em uma pessoa que realmente existiu. Dito isso, a transformação de Brendan Fraser em A Baleia chama a atenção, mas… não. Elvis.

Qual seria meu voto: The Batman (eles transformaram Colin Farrell em um ser humano completamente irreconhecível, caramba).

Se vencer, eu mato um: A Baleia – até porque, sejamos sinceros, o processo de tornar um ator obeso não tem nada de novo. Até Friends já fazia isso com competência na década de 90.

 

TRILHA SONORA

Vai vencer: Os Fabelmans.

Explicando a escolha: Chute. Puro chute. Esta talvez seja a última vez que John Williams será indicado, já que até anunciou aposentadoria (sua última trilha será a de Indiana Jones 5) e seria uma despedida linda (embora seu trabalho em Os Fabelmans não seja particularmente memorável). Tudo ao Mesmo Tempo venceu o prêmio de sua classe profissional (SCL), mas Nada de Novo venceu o BAFTA. Carter Burwell é brilhante e nunca venceu, ao passo que Justin Hurwitz já provou, com La La Land, que sua parceria com Chazelle é bem vista em Hollywood. Ok, vou de Williams. Sem segurança alguma.

Qual seria meu voto: Os Banshees de Inisherin.

 

CANÇÃO ORIGINAL

Vai vencer: RRR.

Explicando a escolha: Vocês precisam mesmo que eu explique?! Vocês viram o filme?

Qual seria meu voto: RRR.

Se vencer, eu mato um: Qualquer um que não seja RRR.

 

SOM

Vai vencer: Top Gun: Maverick

Explicando a escolha: Como há duas associações importantes representando os profissionais da área (a CAS e a MPSE), há duas premiações que funcionam como referência – e Top Gun venceu em ambas, ao passo que Nada de Novo no Frent só venceu na segunda. Dito isso, esta nem é minha razão para escolher Top Gun, mas sim o fato de acreditar que a indústria quer muito prestar tributo ao filme. Normalmente, obras do gênero “Guerra” têm vantagem aqui, mas, a rigor, Top Gun também se encaixaria nesta. Além disso, como a Academia cometeu a imbecilidade de fundir as categorias Som e Edição de Efeitos Sonoros, os filmes mais “barulhentos” (suspiro) passarão a ter ainda mais vantagem.

Qual seria meu voto: Nada de Novo no Front.

Surpresa que me agradaria: Elvis.

 

EFEITOS VISUAIS

Vai vencer: Avatar 2

Explicando a escolha: Venceu o prêmio de sua classe profissional, venceu o BAFTA, foi a maior bilheteria do ano e a indústria não vai deixar a obra de James Cameron sair de mãos abanando.

Qual seria meu voto: Nada de Novo no Front.

 

DOCUMENTÁRIO

Vai vencer: Navalny.

Explicando a escolha: No início da temporada de premiações, todas as apostas eram no excelente All the Beauty and the Bloodshed, mas à medida que as cerimônias foram ocorrendo, a disputa passou a ser dividida entre Fire of Love (que levou o DGA) e Navalny (que levou o BAFTA e, mais importante, o PGA). Dito isso, um filme sobre um dos principais opositores a Putin? Que se encontra preso por isso? A Academia não vai resistir.

Qual seria meu voto: Como só vi All the Beauty…, eu me absteria.

 

CURTA LIVE ACTION

Vai vencer: An Irish Goodbye

Explicando a escolha: Venceu o BAFTA e… bom, é isso. Na falta de outras referências, levo esta em consideração.

Qual seria meu voto: An Irish Goodbye.

Surpresa que não me desagradaria: The Red Suitcase

Se vencer, eu mato um: Gosto de todos, ninguém precisará morrer.

 

CURTA DOCUMENTÁRIO

Vai vencer: The Elephant Whisperers

Explicando a escolha: Chute baseado na sinopse. Embora Stranger at the Gate também tenha disparado alarmes de favorito.

Qual seria meu voto: Tentarei ver todos os indicados antes da cerimônia; caso consiga, atualizarei este texto.

Se vencer, eu mato um: Idem.

 

CURTA ANIMAÇÃO

Vai vencer: The Boy, The Mole, The Fox and the Horse

Explicando a escolha: Venceu o Annie e o BAFTA.

Qual seria meu voto: The Flying Sailor.

Surpresa que não me desagradaria: Ice Merchants

Se vencer, eu mato um: Creio que serei obrigado a fazê-lo, já que The Boy... é praticamente inevitável.

 

Lembrando que comentarei a cerimônia ao vivo a partir das 20h30 aqui.

 

(Curtiu o texto? Se curtiu, você sabia que o Cinema em Cena é um site totalmente independente cuja produção de conteúdo depende do seu apoio para continuar? Para saber como apoiar, basta clicar aqui - só precisamos de alguns minutinhos para explicar. E obrigado desde já pelo clique! Mesmo!)

Sobre o autor:

Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.
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