Datas de Estreia: | Nota: | ||
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Brasil | Exterior | Crítico | Usuários |
22/07/2011 | 01/01/1970 | 1 / 5 | 2 / 5 |
Distribuidora | |||
Dirigido por Marcos Paulo. Com: Milhem Cortaz, Lima Duarte, Giulia Gam, Hermila Guedes, Eriberto Leão, Tonico Pereira, Gero Camilo, Fábio Lago, Créo Kellab, Heitor Martinez, Cadu Fávero, Juliano Cazarré, Vinicius de Oliveira, Milton Gonçalves, Antônio Abujamra, Cássio Gabus Mendes, Marcello Gonçalves, Jorge Medina, Ilva Niño, Paulo César Grande, Fábio Yoshihara, Antonia Fontenelle e Daniel Filho.
Em certo momento de Assalto ao Banco Central, ao observarmos a mesa do delegado vivido por Lima Duarte podemos perceber um porta-retratos que traz uma foto do próprio policial. Sozinho. Em close. Ou isto revela estarmos diante de um personagem absurdamente narcisista ou - o mais provável - que a direção de arte do projeto é tão preguiçosa quanto seu roteiro, sua direção e sua trilha sonora. E se considerarmos que o longa parece aspirar alcançar o tom de Tropa de Elite embora mal consiga fazer jus a um Os Trapaceiros, isto não deveria vir como uma surpresa.
Inspirado no assalto ocorrido em 2005 (o maior na história do país), o roteiro de Renê Belmonte e Lúcio Manfredi é iniciado de maneira promissora, ainda que burocrática, ao assumir o subgênero heist movie como influência e acompanhar a trajetória de Barão (Cortaz) enquanto este monta uma quadrilha que possa levar a cabo o audacioso plano patrocinado pelo misterioso personagem vivido por Daniel Filho. A partir de certo ponto, porém, o filme passa a intercalar a ação do bando com as investigações feitas pelo delegado Amorim (Duarte) e pela agente Telma Monteiro (Gam) depois que o roubo é descoberto, copiando descaradamente a estrutura narrativa do ótimo O Plano Perfeito, de Spike Lee, mas sem aparentemente perceber que esta cronologia não-linear era o que aquela produção tinha de pior.
Impedindo que o longa ganhe ritmo justamente por quebrar a ação dos bandidos (o elemento mais interessante da história) sempre que esta começa a engrenar, a estrutura empregada pelo roteiro ainda destrói qualquer promessa de tensão ao permitir que o espectador já saiba de antemão quais personagens serão presos ou mortos antes mesmo que os conheçamos direito. Assim, mesmo que pontualmente a montagem de Felipe Lacerda (que se sai sempre melhor em documentários) encontre soluções interessantes, saltando, por exemplo, entre a ação dos bandidos em uma casa e a invasão do local pela polícia meses depois, estas pequenas vitórias não compensam todos os problemas de fluidez e construção de tensão provocados por esta estrutura.
Como se não bastasse, o roteiro, apaixonado pelo assalto em si, falha ao não conseguir criar um elemento humano eficaz que ancore o interesse do público – e é frustrante perceber como o fantástico elenco do projeto é desperdiçado por composições unidimensionais que beiram o ridículo: Hermila Guedes, tão brilhante em O Céu de Suely, por exemplo, aqui encarna uma personagem cujas falas parecem sempre ter a motivação de seduzir ou provocar (e é triste notar que o constante mascar de chicletes se torna quase uma muleta de interpretação), ao passo que a homossexualidade da investigadora de Giulia Gam é usada de maneira patética mais para gerar piadas do que para torná-la uma figura complexa. E se Lima Duarte fica preso a um delegado que oscila sem explicação entre a mais completa incompetência e a genialidade absoluta, ao menos não é acompanhado de temas musicais sombrios como aqueles que são ouvidos sempre que o ótimo Milham Cortaz surge na tela apenas para ressaltar a natureza perigosa do sujeito (algo que se aproxima do besteirol quando o Barão surge à soleira de uma porta, mergulhado em sombras, enquanto diz: “Romeu e Julieta eram peixes num aquário”) - uma bobagem que empalidece diante da constatação de que o filme resolve demonstrar que o Barão é um gênio do crime ao trazê-lo jogando xadrez sozinho em duas cenas. Pior do que isso, só se ele insistisse em carregar um gato siamês e em usar monóculo.
A trilha de André Moraes, aliás, constrange ao seguir a lógica de telenovelas ao parecer determinada em criar um tema distinto para cada cena ou personagem, pouco se preocupando em estabelecer uma unidade ao longo da narrativa: assim, apela para melodias engraçadinhas nas cenas supostamente cômicas, investe em acordes mais tensos quando os bandidos se desentendem e mergulha na mais cafona e clichê das trilhas de sedução quando a namorada de Telma (vivida pela argumentista Antônia Fontenelle) surge numa única cena como uma verdadeira caricatura. Isto, porém, não chega aos pés do constrangimento provocado pelos tons inacreditavelmente sacros empregados por Moraes no instante em que um personagem tenta “negociar” com Deus ou com o tema que acompanha as investigações dos heróis, que parece ter saído diretamente de uma série de tevê policial da década de 80.
Marcando a estreia como cineasta do veterano da tevê Marcos Paulo, Assalto ao Banco Central ao menos não carrega na linguagem televisiva: sim, a execução a sangue frio de determinado personagem é retratada de forma patética e inverossímil e uma sequência de perseguição envolvendo um caminhão-cegonha chega a soar amadora ao apelar para planos-detalhe do volante girando rapidamente em vez de empregar planos mais abertos que pudessem mostrar as manobras e a lógica da ação, mas ao menos não temos aqui o excesso de closes e a montagem “um corte por fala” vista no recente Cilada.com, o que é um alívio. Por outro lado, fica difícil perdoar a utilização de cenários tão pedestres como aquele que se passa pela sala de monitoramento da segurança do Banco Central e que, além de sequer parecer real, ainda chega ao cúmulo de trazer o nome da instituição no lugar do protetor de tela de um computador a fim de martelar sua localização na cabeça do espectador.
Nada, porém, consegue alcançar o grau de embaraço provocado pelos diálogos proferidos ao longo da projeção e que obviamente tentam seguir os passos de Tropa de Elite e sua continuação no sentido de estabelecerem frases de efeito no imaginário popular. No entanto, no lugar de “Pede pra sair!” ou “Bota na conta do Papa”, temos aberrações como “Camarão que dorme a onda leva” e “Eu sou Cosme, ele é Damião e você é a oferenda”, que constrangem justamente pelo claro esforço dos roteiristas de tentarem empregar um hollywoodês tupiniquim que jamais convence como algo que uma pessoa sã realmente diria em voz alta. Para piorar, as tentativas de humor presentes ao longo da narrativa fracassam de maneira estrondosa, merecendo (anti)destaque o instante em que o personagem do talentoso Gero Camilo atinge uma rede de esgoto e os demais bandidos aparentemente entram num episódio de Whose Line is it Anyway? enquanto tentam fazer inúmeras piadas com o desastre.
Sem nem saber qual história pretende contar, Assalto ao Banco Central não se decide sobre o foco que quer conferir à narrativa, saltando do plano dos criminosos à investigação dos policiais, ao triângulo amoroso Barão-Carla-Mineiro, à ação de dois policiais corruptos e à inadequação do delegado ao mundo moderno e à sua relação com Telma – e, no processo, acaba falhando em todas as tentativas, não conseguindo estabelecer um centro dramático que envolva com sucesso o público.
Não que o filme seja entediante, pois não é. É apenas mal conduzido, mal estruturado, mal encenado e, como demonstra o desfecho patético que precisava apenas de uma xícara se espatifando para escancarar a influência de Os Suspeitos, profundamente tolo.
22 de Julho de 2011
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